quinta-feira, 6 de maio de 2010

Crianças, crianças...

Pretendia colocar aqui no blog uma poesia mas tive outra ideia...
Deixem-me esclarecer o motivo para tal mudança : não sou louco, sei que um homem que tem os cabelos compridos assim como eu acaba sendo alvo de alguns olhares, mesmo que discretos...Pois bem, crianças não são discretas mas são muito divertidas. 
Eu estava sentado almoçando num desses shoppings, e, sentados à mesa ao lado estavam duas crianças e seus pais quando, entre uma garfada e outra, uma das crianças vira para os pais com uma cara entre assustada e curiosa e diz (leia-se grita) :
- Mas menina tem cabelo! Menino NÃO tem cabelo!
Não pude evitar cair no riso!
O que seríamos nós sem estes seres pueris? 
Pensando nisso lembrei de uma crônica de Luís Fernando Verissimo que li em uma livro da série "Para gostar de ler Júnior" e que decidi postar aqui. Espero que gostem, eu achei muito legal. 



Peça Infantil
A professora começa a se arrepender de ter concordado (“Você é a única que tem temperamento para isto”) em dirigir a peça quando uma das fadinhas anuncia que precisa fazer xixi. É como um sinal. todas as fadinhas decidem que precisam, urgentemente, fazer xixi.
— Está bem, mas só as fadinhas — diz a professora. — E uma de cada vez!
Mas as fadinhas vão em bando para o banheiro.
— Uma de cada vez! Uma de cada vez! E você, onde é que pensa que vai?
— Ao banheiro.
— Não vai, não.
— Mas tia…
— Em primeiro lugar, o banheiro já está cheio. Em segundo lugar, você não é fadinha, é caçador. Volte para o seu lugar.
Um pirata chega atrasado e com a notícia de que sua mãe não conseguiu terminar a capa. Serve uma toalha?
— Não. Você vai ser o único de capa branca. É melhor tirar o tapa-olho e ficar de anão. Vai ser um pouco engraçado, oito anões, mas tudo bem. Por que você está chorando?
— Eu não quero ser anão.
— Então fica de lavrador.
— Posso ficar com o tapa-olho?
— Pode. Um lavrador de tapa-olho. Tudo bem.
— Tia, onde é que eu fico?
É uma margarida.
— Você fica ali.
A professora se dá conta de que as margaridas estão desorganizadas.
— Atenção, margaridas! Todas ali. Você não. Você é coelhinho.
— Mas meu nome é margarida.
— Não interessa! Desculpe, a tia não quis gritar com você. Atenção, coelhinhos. Todos comigo. Margaridas ali, coelhinhos aqui. Lavradores daquele lado, árvores atrás. Árvore, tira o dedo do nariz. Onde é que estão as fadinhas? Que xixi mais demorado!
— Eu vou chamar.
— Fique onde está, lavrador. Uma das margaridas vai chamá-las.
— Já vou.
— Você não, Margarida! Você é coelhinho. Uma das margaridas. Você. Vá chamar as fadinhas. Piratas, fiquem quietos!
— Tia, o que é que eu sou? Eu esqueci o que eu sou.
— Você é o sol. Fica ali que depois a tia… Piratas, por favor!
As fadinhas começam a voltar. Com problemas. Muitas se enredaram nos seus véus e não conseguem arrumá-los. Ajudam-se mutuamente mas no seu nervosismo só pioram a confusão.
— Borboletas, ajudem aqui! — pede a professora.
Mas as borboletas não ouvem. As borboletas estão etéreas. As borboletas fazem poses, fazem esvoaçar seus próprios véus e não ligam para o mundo. A professora, com a ajuda de um coelhinho amigo, de uma árvore e de um camponês, desembaraça os véus das fadinhas.
— Piratas, parem. O próximo que der um pontapé vai ser anão.
Desastre: quebrou uma ponta da Lua.
— Como é que você conseguiu isso? — pergunta a professora sorrindo, sentindo que o seu sorriso deve parecer demente.
— Foi ela!

A acusada é uma camponesa gorda que gosta de distribuir tapas entre os seus inferiores.

— Não tem remédio. Tira isso da cabeça e fica com os anões.
— E a minha frase?
A professora tinha esquecido. A Lua tem uma fala.
— Quem diz a frase da lua é, deixa ver… o Relógio.
— Quem?
— O Relógio. Cadê o Relógio?
— Ele não veio.
— O quê?
— Está com caxumba.
— Ai, meu Deus. Sol, você vai ter que falar pela Lua. Sol, está me ouvindo?
— Eu?
— Você, sim senhor. Você é o Sol. Você sabe a fala da Lua?
— Me deu uma dor de barriga.
— Essa não é a frase da Lua.
— Me deu mesmo, tia. Tenho que ir embora.
— Está bem, está bem. Quem diz a frase da Lua é você.
— Mas eu sou caçador.
— Eu sei que você é caçador! Mas diz a frase da Lua! E não quero discussão!
— Mas eu não sei a frase da Lua.
— Piratas, parem!
— Piratas, parem! Certo?
— Eu não estava falando com você. Piratas, de uma vez por todas…
A camponesa gorda resolve tomar a justiça nas mãos e dá um croque num pirata. A classe unida avança contra a camponesa, que recua, derrubando uma árvore. As borboletas esvoaçam. Os coelhinhos estão em polvorosa. A professora grita:
— Parem! Parem! A cortina vai abrir. Todos a seus lugares. Vai começar!
— Mas, tia, e a frase da Lua?
— “Boa-noite, Sol”.
— Boa-noite.
— Eu não estou falando com você!
— Eu não sou mais o Sol?
— É. Mas eu estava dizendo a frase da Lua. “Boa-noite, Sol.”
— Boa-noite, Sol. Boa-noite, Sol. Não vou esquecer. Boa-noite, Sol…
— Atenção, todo mundo! Piratas e anões nos bastidores. Quem fizer um barulho antes de entrar em cena, eu esgoelo. Coelhinhos nos seus lugares. Árvores para trás. Fadinhas, aqui. Borboletas, esperem a deixa. Margaridas, no chão.
Todos se preparam.
— Você não, Margarida! Você é coelhinho!
Abre o pano.

Um comentário:

  1. Argh! Chega a ser irritante essa cronica... ou eu nao entendi o sentido de tudo isso XD

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