sexta-feira, 7 de maio de 2010

Elegia I

...
Que silêncio é esse que perdura?
Não vês a dor que jaz em meus lábios,
que já não podem encontrar os teus?

As gélidas lágrimas escorrem pela face
Assim como o sangue de Píramo e Tisbe :
Símbolos d'Alma, cárcere da vida,
clamando por unir-se a ti

Os sentidos perderam o sentido
Sem poder te ter...
Fugiste, não sozinha
Pois contigo foram-se o brilho do meu olhar,
o perfume das rosas e as cores do arco-íris

Agora apenas me resta tua lembrança
E a esperança
De um dia bater à porta a mesma Senhora que nos apartou
 Levar-me à tua presença...

Convulsão I

Acho que alguns já leram no Orkut, ou sei lá...Quem não leu comente, críticas são sempre bem vindas!
Um texto meu.

“O coração tem residência no peito.
Em mim a Anatomia ficou louca.
Sou todo coração” Maiakovski

Tento me concentrar e ler outra coisa, outro livro, mas é tarde. Aquelas palavras ressoam em mim como o badalar de Notre Dame. Já não consigo pensar.
Não sei mais o que sinto, ou o que deveria sentir. Sinto, e isso me basta!
O Sol não tem consciência de sua existência, apenas existe, e não há maior beleza e simplicidade que isso.
Recuso me esconder na normalidade. Prefiro declamar meus sentimentos loucamente! Tristeza, ódio, alegria, amargura, esperança...que sigam seu fluxo, não me importa.
Me importa a Paixão, desequilíbrio efêmero que me move ao desconhecido.
Me importa o Amor, chama fugaz que fere sem sentir, fera feroz que fala ao meu âmago.
Não cuido apagar a chama ou aquietar a besta, pois que Cronos certamente o fará; e por essa ocasião meus olhos se apagarão, meus lábios secarão, e eu hei de tombar ao chão, morto, sem som algum.               

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Crianças, crianças...

Pretendia colocar aqui no blog uma poesia mas tive outra ideia...
Deixem-me esclarecer o motivo para tal mudança : não sou louco, sei que um homem que tem os cabelos compridos assim como eu acaba sendo alvo de alguns olhares, mesmo que discretos...Pois bem, crianças não são discretas mas são muito divertidas. 
Eu estava sentado almoçando num desses shoppings, e, sentados à mesa ao lado estavam duas crianças e seus pais quando, entre uma garfada e outra, uma das crianças vira para os pais com uma cara entre assustada e curiosa e diz (leia-se grita) :
- Mas menina tem cabelo! Menino NÃO tem cabelo!
Não pude evitar cair no riso!
O que seríamos nós sem estes seres pueris? 
Pensando nisso lembrei de uma crônica de Luís Fernando Verissimo que li em uma livro da série "Para gostar de ler Júnior" e que decidi postar aqui. Espero que gostem, eu achei muito legal. 



Peça Infantil
A professora começa a se arrepender de ter concordado (“Você é a única que tem temperamento para isto”) em dirigir a peça quando uma das fadinhas anuncia que precisa fazer xixi. É como um sinal. todas as fadinhas decidem que precisam, urgentemente, fazer xixi.
— Está bem, mas só as fadinhas — diz a professora. — E uma de cada vez!
Mas as fadinhas vão em bando para o banheiro.
— Uma de cada vez! Uma de cada vez! E você, onde é que pensa que vai?
— Ao banheiro.
— Não vai, não.
— Mas tia…
— Em primeiro lugar, o banheiro já está cheio. Em segundo lugar, você não é fadinha, é caçador. Volte para o seu lugar.
Um pirata chega atrasado e com a notícia de que sua mãe não conseguiu terminar a capa. Serve uma toalha?
— Não. Você vai ser o único de capa branca. É melhor tirar o tapa-olho e ficar de anão. Vai ser um pouco engraçado, oito anões, mas tudo bem. Por que você está chorando?
— Eu não quero ser anão.
— Então fica de lavrador.
— Posso ficar com o tapa-olho?
— Pode. Um lavrador de tapa-olho. Tudo bem.
— Tia, onde é que eu fico?
É uma margarida.
— Você fica ali.
A professora se dá conta de que as margaridas estão desorganizadas.
— Atenção, margaridas! Todas ali. Você não. Você é coelhinho.
— Mas meu nome é margarida.
— Não interessa! Desculpe, a tia não quis gritar com você. Atenção, coelhinhos. Todos comigo. Margaridas ali, coelhinhos aqui. Lavradores daquele lado, árvores atrás. Árvore, tira o dedo do nariz. Onde é que estão as fadinhas? Que xixi mais demorado!
— Eu vou chamar.
— Fique onde está, lavrador. Uma das margaridas vai chamá-las.
— Já vou.
— Você não, Margarida! Você é coelhinho. Uma das margaridas. Você. Vá chamar as fadinhas. Piratas, fiquem quietos!
— Tia, o que é que eu sou? Eu esqueci o que eu sou.
— Você é o sol. Fica ali que depois a tia… Piratas, por favor!
As fadinhas começam a voltar. Com problemas. Muitas se enredaram nos seus véus e não conseguem arrumá-los. Ajudam-se mutuamente mas no seu nervosismo só pioram a confusão.
— Borboletas, ajudem aqui! — pede a professora.
Mas as borboletas não ouvem. As borboletas estão etéreas. As borboletas fazem poses, fazem esvoaçar seus próprios véus e não ligam para o mundo. A professora, com a ajuda de um coelhinho amigo, de uma árvore e de um camponês, desembaraça os véus das fadinhas.
— Piratas, parem. O próximo que der um pontapé vai ser anão.
Desastre: quebrou uma ponta da Lua.
— Como é que você conseguiu isso? — pergunta a professora sorrindo, sentindo que o seu sorriso deve parecer demente.
— Foi ela!

A acusada é uma camponesa gorda que gosta de distribuir tapas entre os seus inferiores.

— Não tem remédio. Tira isso da cabeça e fica com os anões.
— E a minha frase?
A professora tinha esquecido. A Lua tem uma fala.
— Quem diz a frase da lua é, deixa ver… o Relógio.
— Quem?
— O Relógio. Cadê o Relógio?
— Ele não veio.
— O quê?
— Está com caxumba.
— Ai, meu Deus. Sol, você vai ter que falar pela Lua. Sol, está me ouvindo?
— Eu?
— Você, sim senhor. Você é o Sol. Você sabe a fala da Lua?
— Me deu uma dor de barriga.
— Essa não é a frase da Lua.
— Me deu mesmo, tia. Tenho que ir embora.
— Está bem, está bem. Quem diz a frase da Lua é você.
— Mas eu sou caçador.
— Eu sei que você é caçador! Mas diz a frase da Lua! E não quero discussão!
— Mas eu não sei a frase da Lua.
— Piratas, parem!
— Piratas, parem! Certo?
— Eu não estava falando com você. Piratas, de uma vez por todas…
A camponesa gorda resolve tomar a justiça nas mãos e dá um croque num pirata. A classe unida avança contra a camponesa, que recua, derrubando uma árvore. As borboletas esvoaçam. Os coelhinhos estão em polvorosa. A professora grita:
— Parem! Parem! A cortina vai abrir. Todos a seus lugares. Vai começar!
— Mas, tia, e a frase da Lua?
— “Boa-noite, Sol”.
— Boa-noite.
— Eu não estou falando com você!
— Eu não sou mais o Sol?
— É. Mas eu estava dizendo a frase da Lua. “Boa-noite, Sol.”
— Boa-noite, Sol. Boa-noite, Sol. Não vou esquecer. Boa-noite, Sol…
— Atenção, todo mundo! Piratas e anões nos bastidores. Quem fizer um barulho antes de entrar em cena, eu esgoelo. Coelhinhos nos seus lugares. Árvores para trás. Fadinhas, aqui. Borboletas, esperem a deixa. Margaridas, no chão.
Todos se preparam.
— Você não, Margarida! Você é coelhinho!
Abre o pano.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ficadica :

Sábado, 08 de maio
Sessões : 14:40 - 17:00 - 19:20 - 21:40
Cine Bombril  - O Imaginário Mundo do Dr. Parnassus
Dr. Parnassus é um contador de histórias que viaja pelo mundo com seus companheiros
e sofre ao perceber este mundo não precisa mais de seus contos. (14 anos)
Johnny Depp, Heath Ledger,Jude Law e Colin Farrell
www.ingresso.com.br
Avenida Paulista, 2073
R$ 20,80 (inteira) ; R$ 11,80 (meia)

Domingo, 9 de maio:
17:00 – 18:20
Teatro - A Vinda da família real (Cia. Humbalada)
Praça João Beiçola da Silva: --Av. Lourenço Cabreira, 160 (próximo à estação de trem Primavera-Interlagos)
R$ GRÁTIS


18:00 – 23:00
Blackmore Rock Bar: Al. dos Maracatins, 1317 - Moema - São Paulo - SP (mapa)
VI BLACKMORE ROCK FEST
Nesse domingo teremos a primeira de quatro eliminatórias e as bandas
concorrente serão: "HALLERTAU" (Heavy Metal) & "LITTLE BURNS"
(Classic e Hard Rock) & "INSTINTO SELVAGEM" (Heavy Rock) &
 "KARBAMAZEPINA" (Rock) & "ARVAK" (Heavy Metal)
 R$15,00 (H/M) na porta e R$10,00 com as bandas.

11:30
Centro Cultural Vergueiro
Clássicos do Domingo - Duo de Violões com: Paulo Porto Alegre e Edelton Gloeden
Com obras violoníticas de Ravel, Sor, Johnson, L'hoyer.
- Sala Jardel Filho (323 lugares)
R$ GRÁTIS ( retirada de ingressos: uma hora antes de cada sessão)




Senta que lá vem história...

Tudo bom galëre ? 
Estou inaugurando meu blog e espero que gostem das ideias que tentarei por em prática por aqui. 
Gostaria de ouvir a opinião de todos para que possamos discutir todo e qualquer assunto que nos venha à cabeça. E façam-me o favor de espalhar o blog pros coleguinhas, ok?
Agora vamos ao que interessa, e, como não poderia deixar de ser vou inaugurar este ciberespaço com um texto em prosa que eu fiz como trabalho de redação. Enjoy!

 Sei que não é fácil encontrar um fantasma hoje em dia. Mas eu tive a sorte e encontrei um deles há pouco tempo, durante o carnaval.

Não sou fã do Carnaval como a maioria, quando muito fico em casa e assisto o desfile com amigos. Esse ano foi diferente, todos foram desfilar com as escolas que gostavam enquanto eu saí. Saí apenas, sem rumo pelas ruas, só para não ficar parado em casa enquanto todos estavam se divertindo com suas calorentas e exacerbadas vestimentas, bebendo até ver o mundo rodopiar numa barulhenta festa que há muito não muda.
Neste dia, no final da eterna celebração do nada, andando por uma importante rua no centro da cidade que vi uma biblioteca, e, como havia andado por um bom tempo resolvi entrar. Havia naquele lugar um clima estranho, uma penumbra digna de filmes de terror. Não fosse meu ceticismo sairia no mesmo instante, mas continuei e logo na entrada, em meio a várias mesas vi uma mulher, não muito alta, sentada e com uma lâmpada acesa para que pudesse ler. Aproximei-me da mesa onde ela estava, ela logo percebeu e me indicou a cadeira que estava a sua frente. Atendi sua gentileza e pude ver sua fisionomia, morena com olhos claros, exuberante beleza. Como já havia tirado sua concentração resolvi conversar com a moça, que se mostrou além de bela, culta, e que ironicamente também não gostava do Carnaval. Depois de um tempo imerso naquela conversa me dei conta de que não sabia seu nome e resolvi perguntar-lhe. Surpresa ela assumiu que também não tinha percebido e me disse que não tinha nome.
Ela notou meu susto e explicou-me logo que estava com algum tipo de amnésia, tinha vagas lembranças de algumas pessoas ultimamente, mas que nunca as havia visto, disse que tinha sonhos horríveis com tais pessoas, mas nada que fizesse sentido. Preferi não insistir para não constrangê-la ainda mais.
Convidou-me então a ir a sua casa, que ficava no andar de cima da biblioteca, da qual era dona. Subi sem relutar, e também sem outras intenções, afinal estava comprometido, noivo, mas esta mulher que encontrei certamente chamaria a atenção até mesmo de um cego caso encontrasse um.
    Já no apartamento, decidimos sentar no confortável sofá e procurar alguma notícia para que pudéssemos nos entreter, afinal de contas era feriado. Pulando os tediosos – e inúmeros – canais que cobriam a festa, nossa atenção se fixou num canal que anunciava uma tragédia ocorrida três dias antes, típica nessas épocas de bebedeira e fanfarronice. Um carro capotara numa curva atropelando uma mulher que passava. O local não era longe dali, e a mulher, Daniela S. Ferreira, fora identificada na hora pois parentes estavam próximos do local. O incrível gosto humano pela desgraça alheia nos mantinha ali, frente ao televisor, na tensão do acidente.
O repórter que discorria sobre o ocorrido mostrava então um familiar da vítima. No momento em que o senhor apareceu a mulher ao meu lado deu um salto. Contou-me que já tinha visto aquele homem num de seus sonhos. A macabra coincidência assustava-nos de tal maneira que não conseguíamos nos expressar. Então a dúvida que assolava o ambiente levou um golpe fatal : mostraram uma foto da acidentada, recente figura que de tal maneira se assemelhava à mulher ao meu lado que não deixava dúvidas. Levantei-me, mas nada mais pude fazer, estava paralisado assim como ela. Tinha de sair, respirar, digerir o que tinha acabado de presenciar – o que quer que isso fosse -  mas senti que seria indelicado, principalmente após ser recebido com tamanha simpatia por uma mulher conhecida há poucas horas. Perguntei se necessitava de algo.

Esperei uma resposta, mas ela não disse nada. Pensei em repetir a pergunta, entretanto percebi que parecia confusa, desapontada. Fiquei com pena dela. Saí de mansinho e fechei a porta com cuidado. Voltei para casa sentindo como se tivesse acabado de ler um conto de Allan Poe e eu era uma das personagens...